A Fofoca e a Visão Compartilhada – Por Stênio Cavalcanti Filho, presidente da Anoreg/RJ

Convencer os outros de uma mentira não deixa de ser uma habilidade, nem sempre usada para o mal. A capacidade de mentir, de fantasiar, de criar ficções, de criar mitos está diretamente ligada à revolução cognitiva, que potencializou e permitiu nossa evolução.

A verdade ou a mentira sobre um assunto é quase impossível estabelecer, pois estamos presos a uma rede complexa de informações, emoções, construções nem sempre racionais, inclinações religiosas e filosóficas de todo tipo, determinações inconscientes, e uma infinidade de outras vertentes.

A comunicação não verbal também exerce um papel importante e determina grande parte de nossas ações. Os sistemas de autoridade suspendem nossa racionalidade. O estresse físico ou emocional nos bloqueia ou faz agirmos de forma equivocada. Embora alguns sejam mais desconfiados, todos estamos sempre sujeitos a sugestões de toda ordem. 

O ser humano é um ser social. Queremos fazer parte de um grupo. E reforçamos nossa posição quando podemos contar com o apoio intelectual, moral ou político de outros.  O avanço científico nos mostrou algo que nossos ancestrais intuíram: a linguagem não é exclusividade dos seres humanos. 

O que parece diferenciar nossa linguagem de outros seres vivos é o grau de complexidade e a ilimitada quantidade de informações que podem ser repassadas, somadas a capacidade de criar e transmitir informações sobre coisas que não existem, sobre ficções, que são abstrações fruto de nossa poderosa imaginação ou fantasia. 

As escavações arqueológicas apontam para o fato de que nem sempre nossa comunicação foi tão complexa. Somente a partir de um determinado período, ainda na pré-história, é que o ser humano passou a comunicar informações que podemos chamar de sociais. Informações sociais são aquelas informações relativas ao status social de cada indivíduo componente de um determinado grupo. São informações sobre quem é confiável ou não, quem ama ou odeia quem, quem dorme com quem, quem gosta do presidente e quem que puxar o seu tapete, entre tantas outras. São as popularmente chamadas fofocas.

A teoria da fofoca não é uma brincadeira, é coisa muito séria. Esta teoria informa que a fofoca cumpre um importante papel no meio social. Está apoiada por métodos científicos e estudos respeitáveis. A fofoca pode ser verdadeira e, em grande parte das vezes, é. Foi graças às informações verdadeiras e precisas, sobre quem era leal, respeitável e confiável que grupos mais sólidos, mais sofisticados e maiores puderam se formar. Falsas ou não, essas informações cumprem um papel importantíssimo no meio social. Sabemos do poder que as fake news carregam: destroem em segundos reputações construídas durante décadas, desagregam, dividem, causam dano moral e material e instalam muita confusão e desconfiança dentro e fora de um grupo ou equipe.

No interior de um grupo que respeita decisões democráticas, as divergências de opinião são sempre bem-vindas. A unanimidade não é saudável e indica haver inibição de opiniões divergentes. O sistema democrático é uma forma de inibir a violência e tratar as diferenças com respeito a posição de todos, decidindo sempre com base no apoio da maioria. Para que a democracia exista, é fundamental que se possa expressar, sem inibições de qualquer ordem (vergonha ou medo do ridículo, por exemplo). Um líder não deve desqualificar nenhuma posição, por mais absurda que lhe pareça e nem permitir que algum membro tenha essa atitude.

 O líder e os demais integrantes de um grupo, devem debater e mostrar ao divergente as incoerências de seu raciocínio e, principalmente, todos devem estar abertos a mudar de opinião frente aos argumentos dos demais.  Alguns indivíduos, dentro do grupo, tem uma participação agregadora e reforçam a atuação do líder. Outros estão sempre minando essa força, questionando a liderança e colocando a direção em risco, são os desagregadores. 

Ainda que divergentes e desagregadores, estes indivíduos podem cumprir um papel interessante e até mesmo beneficiar o grupo, desde que ajam dentro dos limites do respeito e da crítica construtiva. No entanto, é mais corriqueiro que os indivíduos desagregadores coloquem em grave risco a direção escolhida ou aceita pelo grupo ou que questionem a visão compartilhada por todos os membros de um grupo ou equipe. Quando trabalham sem algum grau de razoabilidade e bom senso, os desagregadores põem em risco toda a organização e união.

Só é possível formar um grupo sólido e poderoso se ele for integrado e dirigido por pessoas dignas de nossa confiança. A capacidade humana de reunir enormes grupos de pessoas passa pela capacidade de compartilhar uma mesma visão. As pessoas se reúnem em torno de algo que acreditam, ainda que seja uma ficção. Daí a necessidade de construir símbolos, registrar e propagar que valores são importantes e estabelecer os princípios do grupo.

Uma visão compartilhada tem uma função poderosa dentro de um grupo.

Qual é a visão compartilhada dos notários e registradores? 

Cabe ao grupo definir e divulgar essa visão, pois isso é essencial para a nossa subsistência. Cabe a direção e lideranças desse grupo traçar as diretrizes e ressaltar os valores e princípios que irão nortear essas decisões. Precisamos encontrar nossa visão compartilhada, estabelecer os princípios e valores de nossa atuação, escolher símbolos que representam esses princípios e valores e escolher líderes confiáveis para dirigir nossas entidades representativas, protegendo os associados e líderes de ataques distorcidos e infundados.  Essas são apenas algumas linhas daquilo que pode fazer da classe dos notários e registradores uma classe mais forte e respeitada.

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